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Curitiba, Paraná, Brazil
Jornalista e Pós-graduada em Comunicação Audiovisual - PUC/PR.

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sexta-feira, 8 de maio de 2009

COLÔMBIA


Em maio de 2008 tive a oportunidade de conhecer a capital colombiana. Estive por duas semanas em Bogotá e já foi suficiente para eu tirar aquela idéia de que a cidade é violenta, feia e pobre como muitas pessoas haviam me falado. Confesso que fiquei boquiaberta com o trânsito caótico da capital - os motoristas não respeitam as faixas, param onde bem entendem e só se ouve buzinas o tempo todo. Mas Bogotá exala cultura e esbanja atrações durante os 365 dias do ano! Festivais, museus, parques, cafés, teatros, shopping centers, baladas, bares, restaurantes... falta tempo para tantos programas! No entanto, isso é assunto para outro post. Hoje irei escrever sobre o perfil de um jornalista colombiano apaixonado pela profissão. Aproveitei o momento para entrevistá-lo sobre sua trajetória como repórter investigativo e os perigos que enfrenta no dia-a-dia.

Até onde vai a paixão pelo jornalismo?
Ricardo Calderón é um jornalista bogotano apaixonado pela profissão e principalmente pela editoria em que atua. Desde 1995 trabalha como repórter investigativo e afirma que vale a pena se expor em reportagens perigosas.
Uma sala pequena para tantos papéis, livros e anotações, quase sem lugar para colocar meu gravador e um frio que faz jus ao inverno colombiano, pois estamos aproximadamente a 2700 metros de altitude. Ricardo Calderón me recebeu na redação da revista Semana, onde atua como editor e repórter na editoria de Ordem Pública e Judicial. Aos 37 anos, Calderón é um dos jornalistas mais importantes da Colômbia.

Nascido em Bogotá, aos dois anos de idade foi morar em Medellín. Aos seis, retornou com a família à capital, de onde não saiu mais. O que o motivou a fazer jornalismo foi a estrutura da Universidad de La Sabana. “Yo fuí a hacer periodismo porque La Sabana es muy bonita. Fue eso lo que me convenció. Al inicio yo no tenia ninguna inclinación al periodismo como algunas otras personas. Pero cuando comencé la practica me enamoré de la profesión.”

Universidad de La Sabana - Bogotá
Universidad de La Sabana - Bogotá
Quando estava no sétimo semestre, começou seu estágio na editoria de esportes da Revista Semana, mas confessa que não gostava e não entendia nada de esportes. “Yo no sabía nada de deportes. No me gustaba. Sólo sabia que eran once contra once. Pero entré porque era la única plaza que había en aquel momento para yo practicar.” Após seis meses de estágio, passou para a editoria de Ordem Pública e Judicial onde permanece até hoje. A editoria trabalha com jornalismo investigativo, tratando de temas como as Farc, guerrilhas, paramilitares, narcotráfico, crimes, corrupção, entre outros. “Cuándo entré a Semana había pocos funcionarios, sólo doce personas y la revista era muy grande. Había que viajar mucho y a mí me gustaba ir a las zonas de guerra. Entonces yo iba mucho a las zonas de guerra desde el inicio de mi carrera.”
Calderón considera seu trabalho estressante e mais perigoso que outras editorias, mas acredita que vale a pena se expor para fazer seu trabalho, devido à grande repercussão alcançada pelas matérias publicadas: “Yo creo que vale la pena exponerse porque las reportajes que hemos hecho aquí, las investigaciones han servido, muchas veces, para aclarar crimes o para denunciar corrupción. Ha servido bastante para presionar a las autoridades para que capturen a las personas. Ya tuvimos un excelente resultado con los reportajes. Semana es un medio de comunicación muy fuerte en Colombia. Entonces, la presión de los reportajes de Semana es muy grande en el Estado. Luego obliga al Estado a actuar contra los delincuentes y también a fiscalizar el propio Estado. Por lo tanto vale la pena trabajar en la sección de Orden Público.”

AMEAÇAS DE MORTE

O jornalista conta que já sofreu várias ameaças de morte, três delas mais sérias, o que o obrigou a mudar de apartamento duas vezes. A primeira ameaça foi em 1999 quando fez uma reportagem denunciando o tráfico de arma das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) com o governo do Irã. Nesta época, Calderón era solteiro e morava com seus pais. A maneira que usaram para intimidá-lo aterrorizou sua família também. Deixaram na porta de sua casa uma coroa de flores com seu nome e votos de condolências.

A outra ameaça aconteceu em 2002, por denunciar um grupo de policiais em Bogotá que trabalhava com um grupo de paramilitares. Eles haviam torturado algumas pessoas para recuperar dinheiro dos paramilitares. Desde então, Calderón vinha sendo perseguido pelos policiais. “Los policías buenos me avisaron de que sus colegas querían matarme.” As ameaças foram tantas que teve que mudar de apartamento. Deixavam várias mensagens todos os dias na secretaria eletrônica ameaçando-o de morte. A única maneira de se proteger foi andar quatro meses escoltado pela polícia usando colete à prova de balas. Na ocasião, já casado, Calderón preocupava-se com o risco que sua mulher também estava passando.

A revista Semana deu-lhe apoio em tudo, inclusive a possibilidade de sair do país, mas ele achou que nao era necessário. Entretanto, ao mesmo tempo em que a escolta o protegia, também o deixava incomodado porque os policiais sabiam de tudo o que fazia. “Para mí fue muy incomodo vivir este clima porque las escoltas acababan restringindome, yo no podía hacer muchas cosas porque había gente del Estado a mi lado en todos los momentos y sabían de todo lo que yo conversava.”

Calderón se refere principalmente às suas entrevistas, porque, com os policiais ao seu lado, as fontes não se sentiam à vontade, uma vez que sua editoria é de investigacao e suas fontes geralmente sao policiais, guerrilheiros, narcotraficantes, entre outros.

A terceira ameaça foi no ano de 2005, feita por um grupo de paramilitares, motivada por denúncias de massacres que eles haviam cometido e revelações sobre negociações secretas irregulares que estavam tramando com o governo Álvaro Uribe para um processo de paz. “Publicamos unas grabaciones que demostraban que el gobierno y paramilitares estaban aliados y, por lo tanto, tuve problemas con los paramilitares”, comenta.
Dessa vez as ameaças foram maiores: muitas cartas, ligações diárias e, novamente, o envio de uma coroa de flores com seu nome prestando votos de condolências. Mais uma vez, Calderón teve que mudar de endereço. A revista Semana ofereceu todos os subsídios para que o jornalista e sua esposa não sofressem nenhum tipo de agressão, inclusive para que saissem do país, mas ele preferiu ficar. Calderón contava com a seguranca do Estado 24 horas por dia, e os policiais monitoravam tudo o que acontecia nas proximidades de sua casa.
RESULTADOS
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Calderón afirma que vale a pena passar por tudo isso pelos resultados positivos que as denúncias trazem ao país: “Vale la pena porque se ven los resultados de las denuncias que ayudan mucho servir el país. Estos escándalos y investigaciones son importantes para desenmascarar las personas envueltas en los casos.” Para Calderón, o exercício da profissão do jornalista está acima de qualquer coisa e afirma que não se intimida mais com as ameaças. “No tengo miedo de salir a hacer las entrevistas con las fuentes porque creo que consigo detectar cuando hay algo mal en el entorno y durante todos estos años de experiencia como periodista detecto rápidamente si hay problemas por ahí.”
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Ultimamente, não tem havido assassinatos ou seqüestros de jornalistas em Bogotá, mas há muitas ameaças. Entretanto, Calderón garante que a porcentagem é baixa em comparação com alguns anos atrás. Pesquisas indicam que 12% dos jornalistas de Bogotá sofreram ameaças e intimidações recentemente. Dentre os jornalistas mortos até hoje, Calderón se recorda de dois amigos que morreram enquanto trabalhavam. Outro problema enfrentado pelos jornalistas colombianos é a coação de narcotraficantes para que não publiquem reportagens com seus nomes. Calderón já foi procurado duas vezes por emissários de traficantes que ofereceram grande quantia em dinheiro para que seus nomes não fossem divulgados em reportagens do jornalista. Ele afirma que nunca aceitou e, sua opinião é clara com relacao à ética jornalística: “quien romper la ética periodística deben ser severamente castigados”.

Mas não foram apenas coisas ruins que aconteceram durante os 14 anos em que Calderón tem trabalhado como jornalista. Suas reportagens lhe rederam prêmios importantes. Foram dois prêmios nacionais de jornalismo Simón Bolívar na Colômbia e cinco prêmios internacionais: dois SIP - Sociedade Interamericana de Imprensa, um IPYS – Instituto de Imprensa e Sociedade Latino Americana, um de Transparência Internacional e ainda o prêmio Rei da Espanha, todos na categoria de jornalismo investigativo.

LIBERDADE


Segundo ele, não há censura na revista Semana. Os jornalistas são livres para escreverem sobre o que desejarem desde que tenham provas das referidas fontes. “Si tienes pruebas puedes publicar lo que quieres. Durante todos estos años nunca se ha publicado un texto mio editado por otra persona.” A revista Semana existe há 26 anos e conta com um milhão de leitores em todo o país, alcançando uma tiragem de 120 a 150 mil exemplares por semana. Uma característica curiosa é que os repórteres não assinam suas matérias, segundo o chefe de redação, Mauricio Saenz, para a própria segurança dos jornalistas.
Questionado sobre a violência em Bogotá, Calderón acredita que não há muita na cidade, mas afirma que nas regiões rurais a violência ainda é grande. Na cidade, explica ele, é mais fácil rastrear ligações telefônicas e correspondências eletrônicas para descobrir o que os grupos guerrilheiros tramam. Já no interior, é mais complicado, tanto para o governo quanto para os jornalistas saber o que está acontecendo, porque a comunicação é mais difícil.

Apesar de toda a turbulência vivida nesses 14 anos de profissão, Ricardo Calderón não pensa em trocar de emprego. Gosta de trabalhar em revista semanal por ter mais tempo para investigar as fontes e fazer uma reportagem bem elaborada. O que o faz continuar exercendo a profissão é a vontade de mudar o país, e a forma que encontrou para isso é denunciando as Farc, as guerrilhas, o terrorismo, os crimes policiais, o narcotráfico e a corrupção no governo. Hoje, diz que se sente realizado pessoal e profissionalmente. Não quer parar de trabalhar tão cedo e acredita que a paixão pelo jornalismo vale qualquer esforço.

Apesar do estresse e da correria do trabalho, sempre arranja tempo para sair com os amigos porque não considera graves as ameaças que ainda recebe freqüentemente. Calderón acredita que não sofrerá nenhum atentado em lugares públicos, mas, não deixa de tomar as precauções necessárias.

Calderón está no centro da mesa

8 comentários:

  1. Olá, percebo que esta viagem parece ter feito muito bem para ti. VC postou um livro num só post, rsrsrs. Brincadeiras a parte, li e gostei da abordagem, embora nao seja a minha area de conhecimento especifico. Tenha um bom final de Semana.

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  2. Obrigada Eder! A viagem foi ótima e a experiência por estar num país com uma cultura totalmente diferente da nossa, foi sensacional!

    Entrevistar o Calderón foi maravilhoso porque ele contou coisas (ameaças das Farc, guerrilhas, paramilitares) que nunca havia falado para a imprensa. O mais interessante é que ele já ganhou 5 prêmios internacionais por suas reportagens, mas não fez questão de recebê-los porque não gosta de aparecer.

    Então... vou parar por aqui porque irei escrever outro livro! haha
    Um grande abraço

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  3. Interessante, muito. Você acabou a fazer uma bela reportagem onde nos revela a realidade da Colombia através de um personagem fascinante. Parabéns

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  4. Ois Soninha...
    Parabéns pela reportagem.
    Você tem muito talento e está podendo mostrar a todo mundo a que veio...Continue com o blog.
    Adorei e sempre estarei ligada nas novidades.
    Beijos e Muito sucesso pra ti.

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  5. Tha... obrigada pelas palavras! Você sabe o quanto eu te admiro e te gosto!

    Um grande beijoooooo

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  6. Obrigada, Paulo! Tive a oportunidade de poder entrevistar o Calderón que está na editoria de investigação há 14 anos e já passou por várias experiências, umas mais graves outras menos. As piores, segundo ele, foram as ameaças das Farc, das guerrilhas, dos paramilitares e dos próprios policiais colombianos quando ele desvendava algum fato de corrupção, morte ou tráfico de armas.
    Abraços

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  7. Sonia...
    parabéns pela viagem e pela abordagem sobre a paixão pelo jornalismo...O jornalismo não é escolhido,ele é que escolhe você.
    E com certeza vc foi escolhida!!
    Parabéns

    bjo

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  8. Gostei bastante Sónia! Continua a dar-nos mais notícias, mais reportagens, mais histórias.

    beijinhos

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